Conheça a promessa brasileira de 17 anos do Bayern de Munique: “Sonho se realizando”
Poucos torcedores brasileiros devem saber, mas o Bayern de Munique conta com uma promessa brasileira, já treinando entre os profissionais. Trata-se do meia-atacante Maycon Cardozo, de 17 anos. O jovem começou a jogar ainda criança, na Tailândia, onde ficou até receber o convite e assinar contrato com o maior clube da Alemanha.
Em entrevista exclusiva ao 365Scores, Maycon Cardozo falou da influência do pai Douglas Cardozo, campeão brasileiro em 2002 pelo Santos, para se tornar jogador de futebol, e do sonho que está realizando ao estar no gigante alemão, onde alterna jogos pelo sub-19 e treinos com o profissional.
“Não há planos ainda (para ser relacionado para o profissional), mas creio que nos últimos jogos da temporada possa estar no banco esperando pela oportunidade”, disse ele.
Maycon Cardozo iniciou sua carreira no futebol tailandês – ele foi morar no país quando o pai se transferiu para um clube local.
“Comecei a jogar bola com 4 anos (na Tailândia). Meu pai me deixava na academia que tinha perto de casa, ia treinar todos os dias, jogos todos os fins de semana. Com 10 anos, fui para o STB Academy, que é a melhor academia da Tailândia, com parceria com o Bayern. Eles falavam que era o ‘Bayern da Tailândia’. Eu estudava na escola e jogava pelo time deles, com alojamento, comida, tudo”, disse.
Nascido em São Mateus, distrito de São Paulo, o meia-atacante se destacou no futebol tailandês e, aos 15 anos, foi convidado para o Global Academy, projeto do Bayern de Munique para captar jogadores no mundo. A experiência era por oito meses, mas ele só chegou para os dois meses finais.
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Inicialmente, o planejamento era apenas para ganhar experiência, mas Maycon marcou dois gols e deu uma assistência no último amistoso e foi escolhido para outro projeto ligado ao Bayern: o World Squad, onde ficou um mês treinando com o sub-19.
Após reuniões entre comissão técnica e dirigentes, o Bayern de Munique selecionou Maycon Cardozo para integrar o sub-17 e realizar um mês de testes. Com bons desempenhos, no início desse ano o brasileiro assinou contrato até junho de 2027 e se tornou o primeiro jogador a fechar com o clube pelo World Squad.
“Me pegou de surpresa (a assinatura de contrato com o Bayern) porque o planejamento era jogar no Global Academy, ganhar experiência e voltar (para Tailândia). Jogar no Bayern é uma coisa muito grande, e em pouco tempo consegui chegar nesse sonho.”
Início no Bayern e treinos com o profissional
Apesar da felicidade pela realização do sonho, o início de Maycon no Bayern não foi fácil. Na quarta partida pelo sub-17, o brasileiro sofreu uma lesão no ombro com cinco minutos em campo, precisou passar por uma cirurgia e ficou quatro meses em recuperação.
“Foi muito difícil, quando fiquei sabendo (que tinha que operar) chorei muito. Meu pai sempre falava para eu não desistir. Nesse tempo machucado, foi o tempo que ganhei mais massa, fiquei mais forte, fortaleci meu ombro. Foi um tempo de muito aprendizado e crescimento.”
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Atualmente, Maycon Cardozo vem alternando jogos pelo sub-19 e treinos com o profissional. Ele, inclusive, já disputou um amistoso com a equipe principal e atuou os 90 minutos. O técnico Vincent Kompany e o centroavante Harry Kane o elogiaram pelo desempenho em campo.
“Teve um amistoso contra um time da Áustria, não foi jogo oficial, mas foi muito bom. Foi depois do primeiro jogo da Bundesliga. Kim Min-Jae, Raphael Guerrero, Sacha Boey, Pavlovic e Tah não jogaram muito e foram para o amistoso. Como tinham poucos do profissional, chamaram alguns do sub-19, mas só eu e mais dois começamos como titulares.”
“O Kompany estava falando comigo: ‘Cardozo, vai para cima’. Eu joguei muito bem nesse jogo, joguei os 90 minutos. Eu ouvi falar que foi por causa desse jogo que eles continuam me chamando para treinar.
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Mesmo os que não jogaram estavam lá vendo, o Harry Kane, o Kimmich. O Harry Kane veio em mim e falou que joguei muito bem. O Kompany falava comigo, dos erros e das coisas que eu estava fazendo bem. Fiquei muito feliz, mas assustado porque ele já me conhecia, não tinha isso na minha cabeça.”
No sub-19, o meia-atacante, que também atua como ponta, vive grande fase. Na 9ª rodada no Campeonato Alemão, contra o Unterhaching, ele marcou um hat-trick no primeiro tempo e foi o destaque da vitória por 4 a 2. No jogo seguinte, fez o gol do triunfo no clássico diante do TSV 1860 München.
Constantemente chamado para integrar os treinos do profissional, inclusive em preparações para jogos da Champions League, Maycon Cardozo elogia três jogadores: Kimmich, Olise e Harry Kane.
“O primeiro (que me chamou a atenção) foi o Kimmich, é como você consegue ver no jogo, a motivação, o sangue, ele faz tudo isso no treino. É uma coisa que você consegue aprender muito com ele, passe forte, primeiro toque de direção… O segundo foi o Olise, a qualidade dele, o que ele faz no treino é absurdo.”
“Nossa, não sabia o quão bom o Harry Kane era porque não chegava a ver muito ele jogar. Mas agora no Bayern, treinando com ele, consigo ver que ele é diferente, o toque dele é muito bom, as finalizações no treino é difícil dele errar. Todo dia, depois do treino, ele bate dez pênaltis e não erra nenhum, não vi ele errar um pênalti ainda. É uma coisa inacreditável.”
Brasil ou Portugal? O futuro de Maycon Cardozo em seleção
Além de brasileiro, Maycon tem a cidadania portuguesa, que o facilita para jogar na Europa sem ocupar vaga de estrangeiro. Ele ainda não atuou por nenhuma seleção de base, mas tem Brasil e Portugal de olho para futuras convocações.
“Meu sonho é jogar pela seleção brasileira, sempre vai estar no meu coração, minha família está morando lá. Eles (CBF) estão conversando com a minha agência, não chegou ainda nenhum convite, mas creio que logo chega. E se não for muito logo, tem Portugal que está sempre conversando também. Na base, a gente pode trocar (de seleção), mas meu sonho mesmo é jogar na seleção brasileira como profissional.”
Outras respostas de Maycon Cardozo, do Bayern, ao 365Scores:
Carinho do povo e artilheiro na Tailândia
“Os tailandeses queriam muito que eu tirasse o passaporte tailandês por ter morada muitos anos lá e falo tailandês. Ganhei um carinho especial do pessoal da Tailândia, todo mundo gostava de ver os jogos e me acompanhar. Queriam que eu ganhasse o passaporte para jogar pela seleção, mas não foi possível.”
“Eu era diferente dos tailandeses, tinha que ser diferente para chegar em um nível grande. Por isso, muitas pessoas começaram a me seguir aa Tailândia. (Meus números) lá, praticamente, gols eram iguais jogos, fazia um gol por jogo, me destacava muito.”
Chegada à base do Bayern e pressão por ser titular
“Fiquei muito feliz, agora estou no jogando no Bayern, treinando com o profissional. Estou dando meu melhor para mostrar que é possível ir do 0 a 100. A pressão que senti foi de ser titular, quando cheguei aqui o nível era diferente, no treino parece que todo mundo é titular. Eu botei em mim que eu quero ser titular, ter minutos em jogos. No começo, é normal não jogar muito. Com o tempo fui entendendo.”
Momento no sub-19 e treinos com o profissional
“No sub-19, comecei no banco mas agora voltei a ser titular, venho jogando bem. Tenho treinado com o profissional toda semana e voltando só para os jogos. A prioridade sempre vai ser o profissional, estar treinando com o profissional é muito bom.”
“No primeiro dia, tinha só cinco jogadores, mas treinei muito bem, eles gostaram e me chamaram outro dia. Quando voltou todo mundo da seleção, treinei com o time todo, isso é uma coisa que nem todos podem, são poucos. Na semana de Champions League, contra o Chelsea, treinei com o time.”
“A intensidade é muito alta, quando cheguei até me assustei, mas consegui me virar e treinar bem. Não é fácil porque a intensidade e a qualidade são muito altas. Você dá um chute para o Kimmich e com um toque ele consegue passar para o companheiro, é uma coisa só no world class. Estar por dentro desses treinos é a melhor sensação, um sonho se realizando.”
Planos para ser relacionado pelo profissional?
“O planejamento é me destacar no sub-19, como titular em todos os jogos. Não há planos ainda (para ser relacionado para o profissional), mas creio que nos últimos jogos da temporada possa estar no banco esperando pela oportunidade. Se não acontecer nesta temporada, na próxima será um sonho mais perto de se realizar.”
Afinidade com Gnabry
“Quando falo que sou brasileiro, eles tentam falar português comigo e começo a dar risada. O Sergi Gnabry é gente finíssima, gosta de mim para caramba, conversa comigo direto, sempre dá atenção e uns toques. Antes eu só jogava no Fifa com eles, e estar com eles todos os dias é uma coisa muito grande.”
“Gnabry foi o jogador que mais me recebeu bem, sem contar o Lennart Karl, estou todo dia com ele. Mas ele (Gnabry) foi um jogador que até me assustei, não pensava que gostava de conversar, mas é muito bom.
Ele sempre gosta de perguntar da onde vim do Brasil, eu falei ‘São Paulo’ e ele disse: ‘Você veio da favela?’. Eles gostam de falar da favela, acho engraçado. O Gnabry sempre via no Fifa ou na televisão e estar treinando com ele é muito gratificante.”
Qualidade de Neuer com a bola no pé
“Com a bola, a gente faz posse de bola e ele (Neuer) consegue treinar como um meia, com a bola no pé joga muito, foi uma coisa que a gente vê no jogo e no treino também.
Ele não treina muito por conta da idade dele, ele faz as partes dele e vem com o time, mas não chega a treinar que nem doido. Ele é uma lenda, ver ele, fazer gol nele, já tive essa oportunidade, é muito gratificante.”
Musiala
“Mesmo ele (Musiala) não treinando com a gente no campo, sempre vejo, cumprimento ele. Almoça conosco e faz o programa dele na academia, estar começando a correr, sempre vejo ele na fisioterapia. É um jogador que saiu da base e hoje é um dos melhores jogadores da Bundesliga. Ele é como exemplo para mim, ídolo dentro de campo.”
Quem é o jogador mais chato do profissional?
“O mais chato é o Goretzka, porque é o treino todo com a cara fechada, impressionante, dando dura, batendo em todo mundo. O Upamecano, de dois metros, bate em todo mundo, mas é uma coisa que você aprende e tem que enfrentar.”
‘Rivalidade’ com Kim Min-Jae nos treinos
“O Kim Min-Jae é um jogador que gosto muito, mas não sei o que acontece que sempre pego ele no um contra um e sempre me saio bem. Muito difícil passar deles, o Tah dá quase dois metros… Sempre quando passo deles ou faço uma jogada, o Kompany chama a atenção e fala: ‘Muito bem’. Cada vez vou aprimorando e melhorando.”
Neymar e Coutinho como ídolos no futebol
“No futebol, sempre vou falar que meu ídolo é o Neymar. Olhei ele jogar desde criança, meu sonho era ser igual ele, jogar igual ele. O segundo é o Coutinho que até não jogou muito bem no Bayern e no Barcelona, mas no Liverpool ele era diferente. Eu treinava muito e queria fazer o que ele fazia, que era cortar para dentro e a chapada.”
Teste no Santos e projeção para jogar no futebol brasileiro
“Com 9 anos, cheguei a fazer um teste no Santos antes de ir para a academia na Tailândia. Eu passei no Santos, mas como meu pai tinha que voltar para a Tailândia, eu tinha que voltar com ele. Meu pai jogou lá, minha família mora em Santos, então tenho um carinho especial pelo Santos. Mas ainda não passa na minha cabeça em voltar para o Brasil. Seria ‘da hora’ jogar no Brasil, mas meu sonho mesmo é jogar na Europa.”
Qual o maior sonho na carreira?
“Meu maior sonho é disputar uma Champions League. Era um sonho do meu pai como jogador, ele não chegou a realizar e passou essa responsabilidade para mim. Estou lutando para isso. E quem não quer jogar um Copa do Mundo? É o mais alto possível.”
Números de Maycon Cardozo no Bayern de Munique:
Sub-19
- Jogos: 13
- Gols: 4
- Assistências: 4
Sub-17
- Jogos: 4
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