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Com estádio na beira do Báltico e técnico que era diretor de escola, time de vila com 800 pessoas é campeão na Suécia

Com o futebol cada vez mais dominado por grandes potências financeiras, um verdadeiro conto de fadas ganha vida na Suécia e pode culminar em um feito histórico para um modesto time de uma vila de pescadores com menos de mil habitantes localizada no sul do país, que tem um estádio às margens do Mar Báltico e um técnico que até pouco tempo atrás era diretor de escola.

O pouco conhecido Mjällby, sediado em Hällevik, foi campeão sueco pela primeira vez em sua história com três rodadas de antecedência. O título veio após uma vitória por 2 a 0 sobre o Göteborg.

A trajetória encanta os apaixonados por futebol e carrega uma dose de drama. Há dez anos, a equipe, fundada em 1º de abril de 1939, esteve a uma partida de cair para a quarta divisão e chegou à beira da falência.

Davi contra Golias, ou o “Leicester sueco”

Para quem olha de fora e não conhece a história do Mjällby, é comum procurar uma campanha semelhante, uma analogia. E é impossível não lembrar e comparar o possível (provável?) feito sueco com o título inglês do Leicester, em 2016. Um azarão que nunca era incluído na lista de favoritos, mas que acabou por conquistar a bilionária e concorrida Premier League.

“Alguns diziam que o Leicester estava praticamente destinado a cair. E nós pensamos: ‘ok, os especialistas dizem que vamos terminar no meio da tabela’. É preciso entender que viemos de uma vila de apenas 800 habitantes e somos praticamente o único time da região na primeira divisão”, disse o CEO Jacob Lennartsson, em entrevista exclusiva ao 365Scores.

“Comparado aos grandes, somos inexperientes e temos muito menos dinheiro. Teoricamente, nosso sucesso não deveria ser possível, mas é uma história de Davi contra Golias. Ninguém acredita de verdade em um time tão pequeno em muitos sentidos, mas, no momento, somos o melhor da Suécia em termos de vencer jogos”.

Estádio no meio do nada

Hällevik, onde fica a sede do Mjällby, conta com uma população de pouco mais de 800 moradores. A vila está situada na província histórica de Blekinge, que tem 70 mil habitantes, mas está localizada em uma região isolada.

Estádio do Mjällby
Estádio do Mjällby – Foto: Michael Smolski, Football is Everywhere

À beira do Mar Báltico, o Estádio Strandvallen tem média de seis mil torcedores por jogo – ou seja, quase oito vezes mais do que a população local. A diferença se explica pelo grande apoio em dias de partida. Pessoas viajam de cidades maiores da região, como Sölvesborg, Kristianstad e Karlsson, para assistir ao clube local.

A chegada ao estádio pode parecer como se fosse o “fim do mundo“, e é um ponto de reclamação para os clubes visitantes. Apesar de concordar com a posição isolada, o CEO acredita que ele é “fantasticamente localizado“.

“É algo forte na cultura. São 10, 12 minutos no meio do nada. Quando você pensa que o mundo vai acabar, a arena surge. O pensamento mais importante é: quando você chega aqui, você se sente em casa, é adorável. Temos um sentimento familiar e os adversários que saem daqui saem com zero pontos (risos). E eu acho que nós temos lidado com tudo isso muito bem agora”, avaliou.

Para a pequena comunidade, a conquista do Campeonato Sueco significa muito. Mas Jacob Lennartsson aponta que paixão pelo futebol na vila sempre esteve presente – seja na terceira divisão ou agora como o melhor time do país, “as pessoas sempre amaram o Mjällby”.

“Espero apenas que agora, quando estamos disputando o maior troféu da Suécia, eles estejam muito orgulhosos e felizes, porque também tiveram anos de tristeza e frustração”.

Foto: Michael Smolski, Football is Everywhere

Recorde de pontuação

O Mjällby é líder do Campeonato Sueco, com 66 pontos e uma diferença de 11 para o segundo, o Hammarby, a três rodadas do fim. A pequena equipe da vila de pescadores pode também alcançar o recorde histórico de pontuação na Suécia, que hoje pertence ao Malmö – 67 pontos, conquistados em 2010.

“O Mjällby sempre foi um clube pequeno. Quando chegamos à primeira divisão, em 1980, ninguém imaginava que era possível. Em 2023, fomos para a final da Copa (Sueca). Ninguém acreditava antes que o Mjällby poderia estar na final da Copa, mas alcançamos”, relembra Lennartsson.

“Esperamos, com tudo o que temos, que 2025 seja o ano em que o Mjällby vença a Allsvenskan (primeira divisão). Você passa de uma visão que é impossível de alcançar para uma meta que é realmente difícil de alcançar. Mas é possível, e isso nos traz esperança”.

Técnico diretor de escola

A temporada de 2026/27 marcará a estreia do pequeno clube na Liga dos Campeões. A equipe comandada desde 2023 pelo técnico Anders Torstensson disputará a fase preliminar do torneio europeu.

Torstensson vive sua terceira experiência como comandante no Mjällby e possui uma história peculiar e curiosa: quando não trabalhava com futebol, era diretor de uma escola.

Quando foi novamente contratado há dois anos, o principal ponto observado pela diretoria foi de que Torstensson era um “homem de estrutura”, alguém que conhecia a identidade local.

O salto de visibilidade é classificado como “muito intenso” por Jacob e ainda trará problemas, já que, com vaga na Champions, a Uefa não deverá permitir que o acanhado Estádio Strandvallen receba jogos. Isso obrigará o Mjällby a procurar uma nova casa para tentar chegar à fase de liga.

Como competir com pouca estrutura?

O futebol sueco possui uma regra que não permite a entrada de investidores majoritários nos clubes. Isso dificulta a possibilidade de pequenas equipes competirem com os clubes tradicionais e poderosos, como Malmö, AIK e Djurgårdens. O grande segredo do Mjällby para sobreviver está em dois pilares: a disciplina nos custos e a venda de jogadores.

Mesmo com a boa situação econômica, o clube adota a filosofia de que, embora não possa ser o melhor em arrecadar dinheiro, pode ser o melhor em não gastar. O objetivo é ser mais eficiente a cada coroa sueca aplicada para ser um “Mjällby de baixo custo“.

Segundo o site especializado Transfermarkt, o elenco completo do Mjällby está avaliado em 16,85 milhões de euros (R$ 105 milhões). Somente Lamine Yamal, do Barcelona, é avaliado pelo mesmo site em 200 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão).

Michael Smolski, Football is Everywhere

“Para fazer sucesso em campo, você precisa ser bem-sucedido economicamente. A estrutura foi feita para ser bem clara sobre o fato de que o Mjällby não poderia custar mais do que o dinheiro que sabíamos que arrecadava”, diz Jacob Lennartsson.

O clube entendeu que era preciso ser firme em relação ao dinheiro garantido através da bilheteria. A partir desse montante, o Mjällby definiria seus custos e, mesmo que tudo desse errado, já teria clareza sobre quais jogadores poderia contratar.

A inteligência no investimento é direcionada para aquilo que é a maior fonte de receita: a transferência de ativos valiosos. Nesse quesito, o scout vê como crucial descobrir novos talentos, que se encaixem na filosofia, antes dos grandes. Com isso, é possível desenvolver o jovem com a boa estrutura fornecida pela instituição e sem pressão externa para maximizar o potencial e vender.

Para identificar os melhores nomes, o setor de observação monta uma estratégia de elenco para manter padrões. Os primeiros são garantir que a média de idade da equipe seja abaixo de 25 anos, e que pelo menos cinco jogadores das categorias de base estejam aptos a serem vendidos.

Também há uma proibição de ter dois atletas da mesma posição com o contrato a expirar no mesmo ano, a regra que 25% do plantel precisa ser composto pela base e que apenas duas contratações por empréstimo podem ser feitas.

Jacob Lennartsson, CEO do Mjällby – Foto: Michael Smolski, Football is Everywhere

Promessa de correr pelado…

Com o inédito título, Jacob Lennartsson conviverá com uma leve, mas bem-vinda, angústia. O CEO do Mjällby cumprirá uma promessa inusitada feita ao filho: a de correr pelado pela vizinhança.

“Depois que subimos para a primeira divisão, em 2020, meu filho começou a me perguntar: ‘pai, o o que você fará se vencermos a Allsvenskan?’ E eu sempre disse: ‘te prometo que vou correr pelado pela vizinhança'”.

“Achei que era fácil de fazer, mas agora eu começo a observar um pouco que tipo de arbustos e árvores eu posso me esconder. Estou um pouco arrependido”, brincou.

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Lucas Dantas

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