Em meio à violência e pobreza, Haiti sonha com Copa do Mundo após 50 anos
Em meio à guerra entre gangues que assombra o país, o futebol ainda oferece ao Haiti uma rara chance de acreditar no amanhã. A vitória por 1 a 0 sobre a Costa Rica, na última quinta-feira (13), somada ao tropeço de Honduras diante da Nicarágua, mantém a seleção viva na luta por uma vaga na Copa do Mundo de 2026.
Os Granadeiros – como são apelidados – chegam à última rodada das Eliminatórias da Concacaf sonhando com a classificação. O triunfo levou a equipe à segunda colocação do Grupo C, com os mesmos oito pontos da líder Honduras.
Nesta terça-feira (18), os haitianos encaram a lanterna Nicarágua, enquanto Honduras e Costa Rica (seis pontos) se enfrentam. Basta uma vitória simples e um tropeço dos hondurenhos para que o sonho de voltar a um Mundial, adormecido há cinco décadas, renasça em meio ao cenário devastador que o país enfrenta.
O conflito que abala o Haiti
Desde janeiro de 2022, mais de 16 mil haitianos foram assassinados em decorrência da violência de gangues. Somente neste ano, mais de 1,4 milhão de pessoas – metade delas crianças – fugiram de suas casas, impulsionadas pela escalada de ataques e pelo colapso climático.
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Por todo o país, secas e colheitas perdidas em áreas rurais obrigam agricultores a migrar para cidades superlotadas, onde a infraestrutura já insuficiente não consegue conter doenças nem o sentimento de desespero coletivo.
Acredita-se que grupos armados controlem cerca de 90% da capital Porto Príncipe. Eles queimam plantações, matam civis e forçam famílias a abandonar suas terras.
É um Haiti mergulhado na violência e que não tem um presidente eleito desde 2015, quando Jovenel Moïse assumiu o cargo. Ele foi morto a tiros em sua casa em julho de 2021. Desde então, o país caribenho é liderado por um Conselho Presidencial de Transição (CPT), que pretende convocar novas eleições daqui a três meses.
“Eles chegaram sem avisar e queimaram nossas plantações. Corremos para salvar nossas vidas. Os que não fugiram foram mortos. Dois dos meus irmãos foram assassinados”, relatou um cidadão haitiano ao jornal inglês “The Guardian”.
Como isso afetou a seleção?
Desde o assassinato de Moïse, a seleção não joga em território nacional. Por questões de segurança, toda a campanha nas Eliminatórias foi realizada longe de seu povo. A última vez que o Haiti atuou em casa foi em junho de 2021, quando recebeu o Canadá e perdeu por 1 a 0, em duelo válido pela qualificação para a Copa do Mundo de 2022.
Há quase dois anos, o tradicional Estádio Sylvio Cator foi tomado por gangues, e a federação haitiana confirmou que perdeu o controle do local, que permanece inativo desde então.
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Não há qualquer perspectiva de retomada, e ninguém sabe se o estádio um dia voltará a receber futebol, mesmo que a paz seja restabelecida. O espaço, inclusive, serviu como hospital improvisado após o terremoto que devastou Porto Príncipe em 2010.
Entre os atletas, vários nunca tiveram a oportunidade de jogar diante de um estádio lotado de haitianos. É o caso do zagueiro Garven Metusala, que defende o Haiti desde 2022, mas nasceu no Canadá.
“Nunca joguei no Haiti, mas todos os caras com quem converso que já jogaram lá me dizem que faz uma diferença enorme ter a torcida, o apoio do país, e você realmente sente isso. Acho que já nos acostumamos a não jogar diante da nossa torcida. Não acho que possamos mais usar isso como desculpa”, disse à “ESPN”.
Para a fase final das Eliminatórias, os Granadeiros escolheram Curaçao como casa temporária. Na heroica vitória sobre a Costa Rica, foi possível ver parte do coração haitiano nas arquibancadas do Ergilio Hato Stadium, mantendo vivo o vínculo com os torcedores.
O mesmo é esperado para o duelo com a Nicarágua, que pode selar a segunda participação do Haiti em uma Copa do Mundo – a primeira desde 1974. Seria um feito de inspiração e transformação, não apenas para o futebol local, mas para uma população que sofre com a violência e busca há anos um motivo para celebrar.
Quem são os principais jogadores do Haiti
No elenco comandado por Sébastien Migné, há atletas que atuam em ligas de alto nível. Na Premier League, o zagueiro Hannes Delcroix defende o Burnley desde 2023, enquanto o meia e principal jogador da equipe, Jean-Ricner Bellegarde, atua pelo Wolverhampton.
Na França, os defensores Carlens Arcus, Jean-Kévin Duverne e Josué Casimir jogam a primeira divisão por Angers, Nantes e Auxerre, respectivamente. Já nos Estados Unidos, diversos nomes jogam na Major League Soccer (MLS), com destaque para Fafà Picault, do Inter Miami.
Como foi o Haiti na Copa de 1974?
O Haiti tem até hoje apenas uma participação em Mundiais. Na Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha Ocidental, a seleção caribenha caiu num grupo complicado com Polônia, Itália e Argentina.
Os haitianos até supreenderam em sua estreia, saindo na frente da então vice-campeã mundial Itália antes de levarem a virada e perderem por 3 a 1. Diante da Polônia, o choque de realidade: goleada por 7 a 0. Na última rodada, outra goleada, de 4 a 1, para a Argentina.
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