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Exclusivo 365Scores: Jair Ventura analisa acesso do Atlético-GO, reflete sobre rótulos e relembra passagem pelo Corinthians

Por Eduardo Statuti e Duda Lima

Com o fim da temporada e o acesso do Atlético-GO para a elite do futebol brasileiro, o treinador Jair Ventura voltou a ter destaque no cenário nacional do futebol. Em entrevista exclusiva ao 365Scores, o comandante analisou o acesso do Dragão, refletiu sobre rótulos que os técnicos carregam e relembrou sua passagem no Corinthians.

“Foi difícil. Na verdade, quando assumimos nós estávamos em 11º, na segunda parte da tabela, com oito pontos para chegar no G4, faltando exatamente um turno. Nossa estreia foi do returno. Só que nosso desafio, quando apareceu, eu pensei se ia ou não. Desde 2016 estava jogando a Série A. A última Série B foi em 2015 quando fiz três jogos com o Botafogo e conseguimos o título. Aí conversando com minha comissão, estudamos o elenco, conversamos com um monte de profissionais que trabalharam no Atlético, ótimas referências de um clube extremamente estruturado que cumpre com seus compromissos”, relembrou Jair Ventura.

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“Um trabalho difícil, mas que a gente sai com números bem expressivos. A gente teve o melhor returno da competição, o melhor ataque, o artilheiro da competição, o segundo time com mais posse de bola, o primeiro time que mais troou passe na área do adversário. Então assim, muita coisa legal. Não ganhamos por ganhar. Fizemos grandes jogos e convencemos como a gente fala no futebol. Muito feliz de ter coroado o acesso. Fico feliz. É o quarto ano consecutivo desde o Sport que conseguimos a permanência. Depois o Juventude, ano passado com o Goiás, mas também com classificação para a Sul-Americana além do vice-artilheiro Pedro Raul, esse ano mais uma vez o artilheiro e o acesso”, complementou.

Rótulos

Em uma série de bons trabalhos por Juventude, Goiás e Atlético-GO, assim como vários outros treinadores, Jair Ventura teve que lidar com a rotulação que os técnicos sofrem no Brasil. Durante a conversa com o 365Scores, o profissional refletiu sobre o tema.

“Vou te falar uma coisa sobre rótulos. A gente não vai mudar o que as pessoas pensam de você, mas aquilo que as pessoas pensam de você não podem de definir. Eu sei o meu tamanho, eu respeito a opinião das pessoas. Depois de um jogo ganho com dois camisas 9, cheguei em casa e liguei a TV e o repórter comentando da partida e disse ‘o Jair com a linha baixa, jogou com a linha de cinco, mas com certeza na transição conseguiu os gols’. Na mesma hora liguei e disse ‘você não viu o jogo’ e ele realmente concordou comigo”, revelou o treinador.

“Então assim, ele já estava indo totalmente de acordo com o rótulo. Poucas pessoas vão ver os 19 jogos no Atlético-GO, poucas pessoas vão escutar que nós tivemos o melhor ataque. Só que assim, eu não posso ficar chateado quando as pessoas falam que já fiz retranca porque era uma situação que o meu elenco me dava. O que vou fazer é um modelo de jogo, vou jogar para cima, vou fazer o que fiz agora no Atlético-GO e não vou entregar o que o clube quer”, disse.

Foto: Ingryd Oliveira/ACG

“Eu lembro que em 2017 joguei uma Libertadores com o Botafogo e a gente se classificou em primeiro com uma rodada de antecedência na fase de grupos, com média de posse de bola de 44%. Aí vem a situação do rótulo: jogava mais baixo, saia e entrava com transição. No Santos, a mesmas libertadores com média de 78% de posse porque tinha jogadores com características para jogar assim. Não me define, mas sei que essas situações de rótulos vão acontecer. Como se joga com uma bola e se ganha de três do Juventude, do Criciúma, do Guarani. Não é uma verdade, mas a gente aceita. E outra coisa, os últimos treinadores da Seleção tinham fama de retranqueiro. O Tite todo mundo falava, o Mano Menezes a mesma coisa. Quem sabe se seguir esse caminho, a gente possa alcançar grandes conquistas”, complementou Jair.

“Em 2018 a medalha de prata não valia nada”

Com passagens por grandes clubes do Brasil, Jair Ventura chegou muito perto de vencer a Copa do Brasil em 2018 com o Corinthians. Entretanto, a equipe não conseguiu bater o Cruzeiro, em lance traumático e polêmico da anulação de um gol de Pedrinho.

“Eu fui o treinador mais jovem a dirigir a equipe do Corinthians. Imagina ser o mais jovem e já ter um título tão importante como seria uma Copa do Brasil. Eu não gosto de falar de arbitragem que são suscetíveis aos erros como nós treinadores e jogadores. Mas um absurdo o gol anulado do Pedrinho. A gente acaba tendo uma demissão e o árbitro segue ali”, disparou o técnico.

“Infelizmente ainda em 2018 a medalha de prata não valia nada, alguns anos depois o treinador do Corinthians levou a medalha de prata e teve uma renovação. A medalha de prata vale para alguns e as pessoas que te rotulam falam que ela não serve. Passou e o bom de ser jovem é que tem como recuperar tudo, tem como ainda viver as coisas dentro do futebol buscando o meu espaço e sigo me mantendo nessa situação de rótulos e dificuldades. Vamos continuar e tem uma hora que não vai acontecer. Tite para mim é uma grande referência, não foi tão bem no Inter, no Atlético e chegou a Seleção. Uma hora esse título bate. Fiquei triste de não ter dado continuidade no Corinthians, mas paciência”, ponderou.

Veja outros temas da entrevista de Jair Ventura ao 365Scores:

Elenco do Atlético-GO

“Olha essa é uma série de fatores. Lógico que a qualidade do elenco é o principal. Você pode ter as melhores ideias, os melhores treinos, persuadir os seus atletas, mas se eles não tiverem a qualidade, as coisas não vão andar. E um fator importante é essa energia. Tem que ter essa energia e criamos ela que é muito boa. É um elenco muito trabalhador, mais jovem da Série B deste ano. São jovens atletas querendo e almejando coisas grandes. É o perfil do Atlético-GO captar esses jogadores jovens, com fome, com força. É um time muito físico, com jogadores muito técnicos e essa mescla é muito importante. Então assim, o grande facilitador do nosso trabalho foi ter semanas cheias dentro dessas semanas, a gente conseguiu implementar o que pensamos sobre futebol, conseguimos trabalhar todas as fases do jogo da mesma maneira e potencializar todos os jogadores. Acho que o grande segredo do treinador é conseguir potencializar”

Potencialização de centroavantes

“Eu fico feliz do Pedro Raul ter tido o melhor momento na carreira comigo, o Coutinho agora o melhor momento comigo, o Roger, do Botafogo, também. Isso é a parte gratificante porque o treinador é o grande vilão das derrotas, mas quando você começa a lançar jovens, potencializar atletas é muito gratificante para gente. E chegar no final do ano e ter todos esses atletas valorizados, o clube voltando para o lugar onde tem que estar pela estrutura que tem, por honrar seus compromissos. Uma equipe que caiu ano passado, mas foi até a semifinal da Sula, foi até as quartas de final da Copa do Brasil, então acabou por sofrer por não ter um elenco para jogar três/quatro competições e acaba sofrendo. A gente não tem um investimento de um Palmeiras, de um Flamengo, mas vamos enfrentá-los ano que vem. Eu falo vamos se eu continuar. Agora é montar um time competitivo, um time para que possamos sofrer pouco dentro da competição e consiga a permanência”

Gustavo Coutinho

“Todos esses grandes goleadores têm importância para seus clubes. É como se tirar o Cano da proporção. Imagina o Diniz sem o Cano, um jogador que entrega vários gols, que é decisivo em jogos importantes. O Coutinho foi esse cara para gente. A gente ainda trouxe o Peixoto, um ser humano diferenciado e um jogador tão pouco que trabalhei e de pessoa humilde. Ele entendia o momento do Coutinho, que sempre fica jogando para cima. Eles eram amigos e não tinha aquela competitividade sadia. O nosso time é um elenco que era muito bom. Os meninos de bom coração, até quem não jogava. O Dodô disputando posição com Chay. O Dodô entrou no último jogo e mudou a partida com assistência. Então eu tinha muitas opções com jogadores de área como o Peixoto, um 9 de mais mobilidade como o Coutinho, e isso é muito bom para a vida do treinador. Você tem dois camisas 10, tem as beiradas também”

Diferenças da Série A e B

“A logística é difícil. Os campos não são que nem da Série A. Na verdade, eu tive uma Série B mas de maneira interina. Mas a boa parte dos campos não te oferece uma estrutura muito boa, vestiário modesto, distância mais longa para percorrer, mas faz parte. A logística que é difícil, mas feliz de ter conseguido o objetivo, que era o acesso. Acho que quando você vai para um clube estruturado, um clube que era um dos grandes da Série B, eu acho que não tem por que pegar. Eu não me preocupei com a série e sim com o convite de um grande clube, estruturado e um dos que mais crescem dentro do futebol brasileiro. A gente tem a vivência da cabeça do atleta. Isso é um facilitador. A gente se preparou para o nosso cargo hoje fora do campo, mas a nossa vivência dentro do campo nos ajuda. Isso é um pouco do resumo deste grande desafio e deste projeto concluído com sucesso”

Como é o trabalho de Jair Ventura?

“Um cara que entrega resultados quando o clube precisa, um cara que entrega jovens desde 2016 (Matheus Fernandes, Igor Rabello, Marcelo Benevenuto e a gente foi passando Rodrigo Santos. Fomos passando no Sport, lançamos o Gustavo que foi vendido, no Juventude o Sorriso que também foi vendido. Ai o Goiás, Pedro Raul, Dieguinho e esse ano Gustavo Coutinho. Aonde vamos passando, vamos potencializando atletas tendo um aporte financeiro pro clube pq a permanência na Série B hoje era no mínimo 50 milhões para o Atlético-GO. Então é um aporte financeiro para os clubes. Olhando p base antes de pedir contratações. Olho primeiro p base antes de olhar para fora”

“Assim, eu me defino como um cara que priorizo o clube na frente da minha comissão. Eu passo sempre o protagonismo do jogo para meus atletas porque eles são os protagonistas do jogo. O mérito é todo dos atletas, a dedicação é deles, a entrega deles. A gente é apenas um grãozinho de areia para auxiliar o trabalho dos nossos jogadores. E sou esse treinador  que se tiver um elenco que possa me dar condições de jogar como joguei no Atlético-GO, eu vou jogar e se pegar um time na zona de rebaixamento como foi em 2016 e chegar em quinto, eu vou fazer se tiver que ser com aquele modelo”

“Quem vai identificar o modelo de jogo que vou fazer são os meus atletas. Eu não posso marcar em linha alta se eu tiver dois zagueiros pesados, com pouca mobilidade ou que não tem recuperação. Eu não posso jogar com dois jogadores de área se não tenho nenhum no elenco ou começar com duas beiradas se eles cansarem durante o jogo e só tiver volante no banco. Então vai muito de características de meu elenco. Eu me defino como o treinador que vai fazer aquilo o que te entregar e mais importante entregar o objetivo do clube.”

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