Mais de 600 estádios em 54 países: conheça o brasileiro que viaja pelo mundo acompanhando futebol

Todo fã ferrenho de futebol tem um estádio como sua segunda casa. Em muitos casos, se programa para viajar e acompanhar seu time em outras cidades. Sonha em conhecer os grandes templos do esporte, como Wembley, Camp Nou, Maracanã. E há quem transforme essa paixão num objetivo de vida. Colecione estádios como quem, antigamente, colecionava selos ou moedas. É o caso de Miguel Lelis de Freitas, 36 anos, conhecido no Instagram como “Mochileiro da Bola“.

Miguel se dedica a viajar pelo mundo para acompanhar jogos de futebol. De Champions League e Copas do Mundo (já viu três) a jogos de 10ª Divisão da Inglaterra e final da Supercopa de Andorra, apontado por ele como “o pior jogo já visto“. Até o fim de outubro de 2025, já eram mais de 600 estádios visitados em 54 países.

Em 2017, após o término de um relacionamento, outra paixão entrou na vida de Miguel: acompanhar jogos em estádios. Naquele ano, partiu num mochilão para a Europa com o objetivo de conhecer o Santiago Bernabéu (do Real Madrid), o Camp Nou (do Barcelona) e o Signal Iduna Park (do Borussia Dortmund). Foi um “pouquinho” mais longe e, seis meses depois, havia visitado 70 estádios em 19 países. A semente estava lançada.

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“A partir dali, decidi adotar esse estilo de vida”, conta Miguel em entrevista ao 365Scores que teve início por troca de mensagens quando ele estava em Eindhoven, na Holanda, continuou em Tórshavn, nas Ilhas Faroé, e foi finalizada em Bergen, na Noruega. O homem simplesmente não para quieto.

Nascido em Miguelópolis, interior de São Paulo, Miguel se diz corintiano “não praticante” e torcedor do Mirassol. Três anos depois daquele primeiro mochilão europeu, ele, que tem cidadania italiana, deixou a profissão de corretor de seguros para trás e se mudou para a Inglaterra.

O Desafio dos 92

Durante a pandemia, em meio a uma pesquisa sobre estádios, descobriu uma tradição local: o chamado “Desafio dos 92“. A missão (ou epopeia) consiste em assistir a jogos em todos os 92 estádios das quatro primeiras divisões inglesas. Além dos 20 clubes da Premier League, a Inglaterra tem ainda 24 times na Championship (segunda divisão), 24 na League One (3ª) e 24 na League Two (4ª) – sem contar, claro, mais centenas em divisões inferiores.

Com a volta do público aos estádios e a dificuldade em realizar viagens internacionais devido à exigência de testes e quarentenas, Miguel se dedicou a completar o desafio numa temporada. Cruzou a Inglaterra, com direito a uma viagem de mais de dez horas dirigindo de Liverpool, onde morava, até Plymouth. Foi para o País de Gales. Enfrentou chuva, neve, cancelamentos de jogos por casos de Covid e outros problemas.

“Cada remarcação de partida era uma nova adaptação no meu calendário particular. E tudo isso conciliando jogos, viagens e o trabalho, sem nenhum patrocínio”, diz Miguel.

Como bancar essa aventura?

E aqui entra uma questão importante, porque você que está lendo essa matéria já deve estar pensando “como esse cara faz para viajar tanto? De onde sai o dinheiro?“. Com a resposta, Miguel:

“Na Inglaterra, eu tinha um carro e fazia entrega de comida por aplicativos, ou seja, conseguia trabalhar nos horários em que não estava nos jogos, e sempre que viajava acabava ligando o aplicativo e fazia algumas entregas nas cidades onde estava. Atualmente trabalho em uma empresa de processamento de gordura para fazer proteína animal e hambúrguer. Sou chão de fábrica“.

“Recebo meus horários de trabalho na quinta-feira e vou ajustando a semana seguinte. Quando estou em viagem, vou fazendo rifas de camisas e cachecóis com meus seguidores. Para economizar, faço trabalhos voluntários em hostels para trocar por hospedagem. Deixo para viajar de noite nos ônibus para já economizar com diárias de hotéis”, continua ele, que diz que o problema mesmo é o preço dos ingressos, especialmente na Inglaterra.

Em 2023, Miguel retornou ao Brasil. Mas se engana quem acha que ele “sossegou o facho”. O paulista comprou uma scooter e falou com naturalidade, como quem vai até a esquina, que “deu uma volta no Brasil inteiro“. Assistiu a um jogo em cada um dos 26 estados, mais o Distrito Federal. No ano seguinte, fez uma rifa, vendeu a moto e viajou de ônibus pela América do Sul e América Central. Sempre, claro, indo a estádios.

“Fui de visitante com uma torcida de um time da Guatemala em um jogo na Costa Rica. Levamos pedradas na chegada, os torcedores foram tirar satisfação, eu vi que a situação ia se complicar e me escondi”, se diverte Miguel. “A polícia acabou mandando todos de volta para a Guatemala no ônibus, sem assistir o jogo, mas eu entrei”.

Todos os países da Fifa

Neste ano, Miguel se mudou novamente para a Europa. Mora em Eindhoven, na Holanda, e tenta “zerar” os estádios das duas principais divisões do país e da vizinha Bélgica. Já mira também as três principais divisões da Alemanha. E tem, na alça de mira, um objetivo ainda maior.

“Quero assistir a pelo menos um jogo em cada um dos 211 países da Fifa. Cheguei a 54 depois de ter visitado Ilhas Faroé e Noruega nesta Data Fifa de outubro. Mas não estou desesperado nesta caçada”, diz ele, que um dia após ter acompanhado as Ilhas Faroé aplicarem 4 a 0 em Montenegro pelas Eliminatórias da Copa do Mundo estava em Bergen assistindo a um jogo da Quinta Divisão da Noruega e comemorando o fato do time da casa ter buscado um heróico empate em 3 a 3 após sair levando 3 a 0.

“Sou pé-quente!”

Cinco estádios mais legais no Desafio dos 92:

• Anfield (Liverpool) – “Melhor atmosfera dos estádios ingleses”
• Home Park (Plymouth) – “Estádio não muito falado, e que tem boa arquitetura”
• Kenilworth Road (Luton Town) – “Um dos estádios mais raiz que recebeu a Premier League; pequeno, com acesso pelo meio das casinhas do bairro”
• Blundell Park (Grimsby) – “Estádio bem raiz também, possível ver a arquitetura antiga”
• Crave Cottage (Fulham) – “Um dos estádios mais charmosos da Inglaterra, com sua ‘casinha’”

Cinco piores estádios no Desafio dos 92:

• St Andrews Stadium (Birmingham City)
• Madejski Stadium (Reading)
• Ashton Gate Stadium (Bristol City)
• The Den (Millwall)
• Ewood Park (Blackburn Rovers)
  “Os piores estádios foram todos pela atmosfera fraca”

Cinco melhores estádios que já visitou no mundo:

• Tottenham Stadium (Tottenham-ING) – “Moderno, impressiona pela beleza, o interior lembra um shopping ou um aeroporto”
• Lusail Stadium (Catar) – “Modernidade, design, e ainda tem ar-condicionado”
• Estádio da Luz (Benfica-POR) – “O passeio da águia Vitória antes dos jogos é um momento marcante, e é um dos maiores estádios do mundo”
• Estádio Nacional de Luxemburgo (Luxemburgo) – “Estádio novo, com cores bem vivas, estilo arena, com capacidade para dez mil pessoas, o que para mim seria ideal para equipes brasileiras pequenas”
• Estádio Monumental David Arellano (Colo-Colo-CHL) – “Impressiona pela beleza da Cordilheira dos Andes ao fundo”

Cinco piores estádios que já visitou no mundo:

• Estádio Deportivo Cali (Deportivo Cali-COL) – “Péssimo acesso. Localizado entre as cidades de Cáli e Palmira, não conta com transporte público, taxi é caro”
• Estádio Nacional Vasil Levski (Bulgária) – “Estádios olímpicos não me agradam muito, ainda mais com alguns que aumentam ainda mais a parte atrás dos gols. A arquibancada é muito distante do campo”
• Estádio Luis Tróccoli (Cerro-URU) – “Arquibancadas distantes do gramado, e o Cerro não tem torcida para lotar os 25 mil lugares do estádio”
• Estádio Fragata Presidente Sarmiento (Almirante Brown-ARG) – “Parece um Frankenstein, todo remendado. Cada setor é de um modo, dá a impressão que foram arrumando dinheiro aos poucos e construindo em épocas diferentes”
• Estádio Oscar Quiteno (FAS-ESA) – “Outro estádio olímpico, agora em El Salvador, com grande distância da arquibancada e um dos gols, além de baixa iluminação”

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