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Exclusiva com Lucio Flavio, técnico do ataque mais positivo do Brasil: “O trabalho no Botafogo me trouxe uma casca”

Ex-jogador dirige a Aparecidense-GO, dona da melhor campanha da primeira fase da Série D

Líder do Brasileirão, o Flamengo tem o melhor ataque da competição, com 30 gols marcados em 16 partidas. Se engana, porém, quem pensa que o Rubro-Negro de Pedro, Luiz Araújo, Bruno Henrique e cia é o ataque mais eficiente do país.

A Aparecidense-GO balançou as redes adversárias 32 vezes nos 14 jogos da primeira fase da Série D, com uma média de 2,28 gols por jogo. Junto ao poder de fogo no ataque, o time conseguiu a melhor campanha da competição, e agora se prepara para encarar o Maricá-RJ no mata-mata, a partir de sábado.

O time tem também, proporcionalmente, a melhor campanha de todas as divisões, com seus 32 pontos, superando Flamengo, Goiás (líder da Série B) e Caxias (líder da Série C).

No comando da Aparecidense está um velho conhecido do torcedor brasileiro, e em especial dos botafoguenses: Lucio Flavio. Aos 46 anos, o ex-jogador é o responsável por tentar conduzir a equipe de Aparecida de Goiânia de volta à Série C após o rebaixamento no ano passado.

“Eu sabia que tínhamos o melhor percentual de pontuação de todas as divisões, mas os números do ataque são até uma surpresa”, confessa Lucio Flavio em entrevista exclusiva, por vídeo, ao 365Scores.

O técnico falou sobre o trabalho à frente do time goiano e recorda o turbulento 2023 em que comandou o Botafogo por sete jogos após a saída de Bruno Lage.

“O aspecto emocional dos jogadores pesou muito. Aquele trabalho me trouxe uma casca.”

Qual o segredo desse time da Aparecidense, melhor ataque de todas as quatro divisões nacionais?

Os números do ataque até são uma surpresa, eu não sabia. Isso demonstra a capacidade de buscar muito o resultado. Passo para os jogadores isso de ir para o jogo com fome de vencer o adversário. E o grupo entendeu o propósito.

Você teve uma passagem anterior pela Aparecidense, comandando o time no ano passado. Qual a diferença daquele trabalho, que não teve sucesso, para esse agora?

No ano passado tivemos um Estadual muito bom, quase fizemos a decisão (perdeu para o Vila Nova na semifinal). Na Série C, enquanto estive, o time foi muito bem na maioria dos jogos. O resultado não veio, e ele conta muito. Quando saí, o time não estava na zona de rebaixamento. Depois, entrou e não saiu mais, acabou caindo.

Houve uma mudança drástica de elenco. Porém, mesmo com a queda (para a Série D) foi montado um grupo interessante, dentro das limitações financeiras.

O quanto você aprendeu com aquele turbulento 2023 no Botafogo?

A partir do momento que você passa por algumas situações, você tira muitas lições. Você precisa ganhar, independente da circunstância. Por mais que o trabalho seja bom, você vai ser avaliado pelo resultado final.

Peguei um trabalho que não participava , porque eu era do sub-23, em uma equipe que era líder. No primeiro momento (como auxiliar de Claudio Caçapa), demos continuidade. Vencemos os dois primeiros jogos, junto com Caçapa, e aí veio a mudança do comando, a vinda do Bruno Lage.

Aconteceu a saída dele e a solicitação de jogadores e da cadeia do futebol do clube, por eu conhecer bem o Botafogo, para que eu permanecesse.

Olhando algumas situações que ocorreram, o aspecto emocional dos jogadores pesou muito. Houve talvez uma falta de equilíbrio em alguns jogos. O time abria dois gols de diferença e não conseguia manter.

Tudo o que tive lá de exemplo procuro passar aqui. A maior goleada da Série D foi nossa, um 7 a 0 sobre o Porto Velho-RO. No intervalo, estava 3 a 0, e eu falei que tínhamos que continuar atacando. Até por respeito pelo adversário, ir lá e fazer mais gols.

Eu já tive um exemplo de vencer por 3 a 0 no intervalo e acabar derrotado (Lucio era o técnico do Botafogo na histórica virada de 4 a 3 do Palmeiras). Você só supera o adversário quando termina o jogo.

Isso me trouxe uma casca. O resultado é o que pesa. Infelizmente não aconteceu lá atrás.

Foto: Vítor Silva/Botafogo

Em toda sua carreira como jogador e agora no início como auxiliar técnico, quais foram os treinadores que mais lhe inspiraram?

Como jogador, foram 20 anos de carreira. No meu começo, no Paraná, eu tive dois treinadores que foram referência. Primeiro o Rubens Minelli, com quem tive oportunidade de trabalhar quando ainda estava na base, e depois o Otacílio Gonçalves.

Mais para frente tem Muricy (Ramalho), Cuca. Eu gostei muito do trabalho do Enderson (Moreira). Tiro muitas coisas que vi do trabalho dele para mim. É uma das referências, principalmente na forma de lidar com os atletas. E na reta final da minha carreira o Dado Cavalcanti me ensinou muito.

Do Enderson eu tirei muito o aspecto de atacar o adversário. Isso me despertou muito. Tem dado certo. Você sempre pega um pouquinho de cada treinador, vai retendo o que pegou de bom deles.

E tem coisas que evito fazer. Situações equivocadas, que não deram certo, vocês busca evitar. É muito mais fácil ser jogador do que treinador. São 35, 40 atletas querendo jogar. Você tem que administrar o ambiente. Sei que não vou satisfazer a todos. Claro que o jogador não pode ficar satisfeito de não jogar, mas ele tem que ter a percepção, a reflexão, quando não está bem.

Lucio Flavio, técnico da Aparecidense
Lucio Flavio, técnico da Aparecidense – Foto: Raphael Teixeira/Aparecidense

O que espera desse primeiro duelo do mata-mata, contra o Maricá?

Até pelo tempo que estive no Rio, acompanhei um pouco do Maricá. O treinador, o Reinaldo, é um grande amigo meu. É um dos amigos que fiz no futebol. Fico muito feliz com o trabalho dele, e feliz com o clube, porque ele está lá há um certo tempo. Bom ele ter essa continuidade, e agora o clube colhe os resultados.

Agora é outra competição, outro perfil. O lado emocional é importante, é um jogo mais tenso. Tem que estar com a cabeça boa para desempenhar bem. Mas a equipe sabe que pode chegar.

E a cabeça dos jogadores da Aparecidense está boa?

Percebo um pouco essa condição da equipe no dia a dia. Os treinos dessa semana já mostraram que o grupo está bem. Nos classificamos com quatro rodadas de antecedência, e nas últimas partidas aconteceu um certo relaxamento. É natural, somos seres humanos, mas serviu como alerta.

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Renato de Alexandrino

Editor-chefe do 365Scores. Jornalista formado na PUC-RS, com mais de 30 anos de experiência em redações. Cobriu in loco as Copas do Mundo de 2010, 2014 e 2018, e as Olimpíadas de 2016. Apaixonado por futebol, surfe e NBA, entre outros esportes.

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