Da tragédia ao renascimento: nove anos do acidente da Chapecoense e o retorno à Série A
O calendário marca para este sábado, 29 de novembro, uma das datas mais dolorosas da história do esporte mundial. Nove anos se passaram desde aquele fatídico 29 de novembro de 2016. Nove anos desde que o sonho de um time simpático do interior de Santa Catarina foi interrompido nas montanhas da Colômbia.
Mas este aniversário de 2025 chega com um sabor agridoce, diferente dos anteriores. Se a saudade é eterna, o orgulho está renovado, com o acesso da Chapecoense à Série A do Campeonato Brasileiro. O Verdão do Oeste está de volta à elite após quatro anos jogando a Série B.
O voo para a glória que virou tragédia
Em 2016, a Chapecoense vivia um conto de fadas. Um time sem estrelas internacionais, mas com um conjunto operário e valente comandado por Caio Júnior, havia eliminado gigantes como o San Lorenzo e o Independiente. O destino era Medellín, onde enfrentariam o Atlético Nacional na jogo de ida da final da Copa Sul-Americana. Era a maior partida da história do clube.
A delegação embarcou no voo LaMia 2933, partindo de Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) com destino ao aeroporto José María Córdova, em Rionegro.
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Às 21h58 (horário local da Colômbia) de 28 de novembro (já dia 29 no horário de Brasília), a aeronave declarou emergência por falha elétrica e falta de combustível (pane seca). O Avro RJ85 colidiu contra o Cerro Gordo (hoje rebatizado de Cerro Chapecoense), a poucos minutos do pouso.

Os números da dor
A tragédia vitimou 71 pessoas. O mundo do futebol parou. Estádios ao redor do globo se pintaram de verde. O Atlético Nacional abriu mão do título, consagrando a Chapecoense como campeã da Sul-Americana daquele ano.
O saldo do acidente:
- 71 mortos (19 jogadores, 25 membros da comissão técnica e diretoria, 20 jornalistas e 7 tripulantes)
- 6 sobreviventes
Entre as vítimas fatais, ídolos que a torcida jamais esqueceu:
- Danilo: O goleiro “São Danilo”, herói da classificação contra o San Lorenzo. Ele chegou a ser resgatado com vida, mas não resistiu aos ferimentos no hospital.
- Cleber Santana: O capitão e experiente meio-campista.
- Bruno Rangel: O maior artilheiro da história do clube.
- Caio Júnior: O técnico.
- Jornalistas: Nomes consagrados como Mário Sérgio, Deva Pascovicci, Paulo Júlio Clement e Victorino Chermont (FOX Sports), além de repórteres da Globo, RBS e rádios locais de Chapecó.
Os sobreviventes: Onde estão hoje?
O “milagre” daquela noite tem nome e sobrenome. Seis pessoas saíram vivas dos destroços. O destino de cada um nos últimos 9 anos é uma história de superação particular.
1. Alan Ruschel (Lateral-esquerdo)
O símbolo da resiliência em campo. Alan não apenas sobreviveu, como voltou a jogar futebol profissionalmente em alto nível.
- Pós-acidente: Contra todos os prognósticos médicos, ele reaprendeu a andar, voltou a treinar e reestreou pela Chapecoense em um amistoso contra o Barcelona, no Camp Nou, em 2017.
- Hoje: Segue sua carreira nos gramados, tendo passado por clubes como Goiás, Cruzeiro e Juventude, onde se tornou peça fundamental. Ele carrega as cicatrizes nas costas e a braçadeira de capitão da vida.
2. Jakson Follmann (Goleiro)
Era o goleiro reserva e uma das promessas do clube. Teve parte da perna direita amputada em decorrência do acidente, encerrando sua carreira esportiva, mas não sua vida pública.
- Hoje: Follmann se reinventou de maneira espetacular. Virou embaixador da Chapecoense, palestrante motivacional e cantor. Sua alegria de viver, mesmo após perder a perna, é contagiante e inspira milhões de brasileiros.
3. Neto (Zagueiro)
O último a ser resgatado, encontrado sob a fuselagem quando as buscas já diminuíam de intensidade. Ficou em coma e teve sérias lesões na coluna.
- Pós-acidente: Neto lutou bravamente por três anos para voltar a jogar. Chegou a treinar com bola, mas as dores crônicas na coluna eram insuportáveis. Em dezembro de 2019, anunciou sua aposentadoria oficial.
- Hoje: Dedica-se à família, à religião e atua nos bastidores, muitas vezes como uma voz de cobrança por justiça e indenizações para as famílias das vítimas, além de dar palestras de testemunho de fé.
4. Rafael Henzel (Jornalista)
O único sobrevivente da imprensa. Rafael voltou a narrar jogos da Chapecoense com uma emoção que arrepiava a todos. Escreveu o livro “Viva como se estivesse de partida”.
- A segunda despedida: Infelizmente, em 26 de março de 2019 Rafael sofreu um infarto fulminante enquanto jogava futebol com amigos em Chapecó e faleceu. Sua voz segue eternizada nas gravações dos gols da Chape.
5. A Tripulação (Ximena Suárez e Erwin Tumiri)
- Ximena Suárez (Comissária): Voltou a voar tempos depois, lançou um livro e segue vivendo na Bolívia, embora tenha lidado com traumas profundos.
- Erwin Tumiri (Técnico de voo): Um caso impressionante. Além de sobreviver à queda do avião em 2016, em 2021 ele sobreviveu a outro acidente grave: um ônibus em que viajava capotou na Bolívia, matando 21 pessoas. Ele saiu praticamente ileso novamente.

2025: O Retorno à Elite e a Homenagem Definitiva
Neste ano de 2025, a Chapecoense honrou a memória de 2016 da melhor forma possível: vencendo dentro de campo.
A campanha da Chapecoense na Série B de 2025 foi definida pela regularidade. O time terminou na 3ª colocação com 62 pontos (18 vitórias, 8 empates e 12 derrotas), garantindo o acesso apenas na emocionante última rodada com uma vitória sobre o Atlético-GO. Diferente de anos anteriores onde oscilou, o “Verdão do Oeste” se manteve no G-4 durante quase todo o campeonato, ostentando o segundo melhor ataque da competição (52 gols).
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Após temporadas difíceis na Série B, lutando contra crises financeiras e reconstruções de elenco, o acesso confirmado no domingo passado trouxe o sorriso de volta ao rosto do torcedor na Arena Condá.
Este acesso não é apenas esportivo. É a prova de que a instituição é maior que a tragédia. A cada gol marcado nesta campanha, a torcida cantou o famoso “Vamos, vamos Chape”, um mantra que deixou de ser apenas um grito de guerra para se tornar uma oração universal do futebol.




